terça-feira

Os tratados e a posição social do arquiteto

A busca do ordenamento clássico na tratadística do período. A imagem faz parte do tratado de Vignola (As regras das cinco ordens da Arquitetura).

A busca do ordenamento clássico na tratadística do período. A imagem faz parte do tratado de Vignola (As regras das cinco ordens da Arquitetura).

Além da sempre presente inspiração vitruviana, um elemento que veio a caracterizar os principais tratados renascentistas, especialmente aqueles que foram propostos nos primeiros momentos do Renascimento, é o fato de seus autores procurarem, muitas vezes com uma preocupação maior que com a investigação da arquitetura de fato, posicionarem o arquiteto como uma figura tipicamente pertencente à elite e fundamental na definição da estrutura política de uma determinada sociedade. Tal determinação quanto à profissão não é, claramente, um mero acaso ou "corporativismo" daqueles tratadistas, mas um fenômeno que está absolutamente ligado às mudanças sociais que o artista e o artesão têm sofrido (ver as próximas seções para uma análise mais profunda desta situação). Neste sentido, os tratados efetivamente servem como meios de propaganda deste novo profissional que estava surgindo, em oposição à visão tradicional (associando inexoravelmente o arquiteto às atividades manuais, e portanto, populares e anti-intelectuais). A constatação da ocorrência desta promoção dos arquitetos como artistas nobres e intelectuais, diversos dos "meros artesãos de origem popular" também se evidencia quando se verifica para quem os tratados eram escritos: em geral, eram dedicados à nobreza (ou a algum nobre em específico), possuíam um estilo refinado e abordavam questões diretamente que supostamente seriam de interesse político dos príncipes que compunham a estrutura política italiana.

Apesar da arquitetura romana também ter se preocupado com tal questão (e o tratado vitruviano ressalta este dado, visto que ele próprio é uma carta dirigida ao Imperador), a manifestação deste desejo de afirmação social por parte dos arquitetos renascentistas é um elemento de destaque no período quando se compara com a forma de produção artística medieval, já citada como sendo caracterizada pela criação coletiva (e anônima, por excelência), dominada pela cultura do saber fazer. Os tratados formalizam o desejo do homem renascentista de manifestar-se como indivíduo perante o Mundo e ajudam na contextualização da arquitetura como disciplina acadêmica.

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